Ordem PERLARIAE
Caracteres. - Insetos de 0,5 a 3 cm.
de comprimento. Têm o corpo deprimido, o tegumento pouco esclerosado, geralmente
de cor parda mais ou menos escura, ou esverdeada; apresentam dois pares de asas
membranosas, as posteriores, na maioria das espécies, com a região anal
formando um lóbulo mais ou menos saliente, que se dobra sob o resto da asa,
quando o inseto repousa, e o abdômen provido de 2 cercos, na maioria das espécies
multisegmentados e mais ou menos alongados. São insetos antibióticos e
hemimetabolicos.
Anatomia externa. - Cabeça, em geral chata, trapezóide,
apresentando pequenos olhos facetados e 2 ou 3 ocelos. Antenas longas, cetáceas,
de 30 a 80 segmentos. Aparelho bucal de tipo mandibulado, rudimentar, em algumas
espécies, porém, desenvolvido e funcional (Gripopteryx, Taeniopteryx).
Tórax - Segmentos torácicos
distintamente separados, sub-iguais. Protorax livre, sob retangular ou elíptico.
Pernas normais, ambutalorias, com os quadris bem afastados; em varias espécies,
porém, os quadris são aproximados. Tarsos de artículos, apresentando o ultimo (pretarso),
que é o maior, um par de garras e entre elas um empodio em forma de crescentes ou
triangulo
Anacroneuria sp. (cerca de X 2,5).
Asas desiguais com a membrana hialina,
mais ou menos escura, ou com manchas. As anteriores, em repouso, cobrem o abdômen.
As posteriores, que são as mais curtas na maioria das espécies, apresentam o
campo anal muito mais desenvolvido que nas anteriores. Pousado o inseto, esta
parte fica dobrada sob o resto da asa, daí o nome Plecoptera46 dado a
esta ordem por vários autores. Tal disposição das asas posteriores, o aspecto
das peças bucais em algumas espécies de tipo mais generalizado e a constituição
do intestino, geralmente provido de cegos gástricos, evidenciam uma estreita
afinidade destes insetos com os Ortópteros.
Ha vários Perlideos cujos machos se
apresentam micrópteros, observando-se ás vezes, numa mesma espécie, diferentes graus
de micróptera.
Abdômen apresentando 10
uromeros distintos (o 11° reduzido), desprovido de gonapofises. Daí a copula realizar
quando a fêmea se acha pousada. O ultimo uromero apresenta, na maioria das espécies,
2 cercos alongados e pluriarticulados, excepto nas espécies de Nemouridae cujos
cercos são muito curtos e têm de 1 a 3 segmentos.
A forma do penultimo urosternito (placa
subgenital) da fêmea oferece bons caracteres para a separação das espécies.
Hábitos. - Como os Perlideos
voam mal, raramente se os vê longe dos criadouros naturais. Daí serem mais
facilmente encontrados quando pousados sobre pedras nas margens dos rios e
riachos encachoeirados dos lugares montanhosos. Ao anoitecer, porém, mostram-se
mais ativos, podendo então ser apanhados ao redor das lâmpadas de iluminação.
Ha, entretanto, algumas espécies que
voam bem durante o dia entre as plantas situadas á margem das corredeiras.
Os Perlideos adultos, como as Efêmeras,
vivem pouco tempo, e, excetuando as raras espécies que possuem peças bucais
funcionais, não se alimentam.
Postura. - As fêmeas, depois de
fecundadas, põem de 1.500 a 6.000 ovos, segundo a espécie. A viviparidade
parece ocorrer raramente nos Perlideos. NEEDHAM observou-a numa espécie
norte-americana do gênero Capnia. Em muitas espécies os ovos, ao serem postos,
vão se acumulando em uma massa arredondada, que fica presa sob a extremidade
posterior do abdômen da fêmea. Esta, finda a postura, mergulha o ápice do abdômen
na correnteza, para destacar a referida massa, e os ovos que a constituíam ou
vão para o fundo ou se prendem a qualquer suporte, geralmente por um filamento que
se desenrola do pólo micro pilar do ovo.
Desenvolvimento post-embrionario.
- Dos
ovos nascem às primeiras formas jovens, ou larvas, como também são designadas.
O seu aspecto é bem semelhante ao das formas adultas. Encontram-se as, quase
sempre, sob ou sobre pedras e outros suportes submersos. Nelas, porém, as peças
bucais são relativamente robustas e funcionais. As pernas, nas formas jovens
mais desenvolvidas, são providas de franjas de longos pêlos natatórios. As
larvas e ninfas dos Perlideos, em geral, movem-se lentamente e, como são
predadoras, consegue capturar as presas mais pelo habito de se ocultarem que
pela agilidade.
Alimentam-se de outros insetos
anfibiotieos, principalmente formas jovens de Efemerideos, larvas de Dípteros
das famílias Simuliidae e Chironomidae e de Trichopteros. As formas mais
robustas podem atacar as mais jovens, de espécies diferentes ou da mesma espécie.
As larvas e ninfas dos Perlideos são
apneusticas, respirando oxigênio do ar dissolvido na água principalmente através
do tegumento.
Na maioria das espécies as formas
jovens mais desenvolvidas apresentam traqueobranquias externas cuja posição varia
segundo a espécie. Ora elas se inserem na região pleural (brânquias pleurais)
ora na extremidade do abdômen (Leptoperlidae), entre a inserção dos céreos (brânquias
anais), formando a roseta anal (fig. 51), ora na base dos quadris (brânquias coxais),
finalmente, na prosterno (brânquias prosternais). As formas jovens dos Perlideos
mais arcaicos da família Eustheniidae, do Chile, Austrália e Nova Zelândia,
apresentam traqueobranquias de cada lado dos primeiros uromeros.
Na maioria das espécies as traqueobranquias
são filamentares ou tubulares, formando, geralmente, pequenos tufos.
Muito se tem escrito sobre a persistência
no adulto das traqueobranquias larvais, depois da famosa descoberta de NEWPORT
(1844) da existência de tais órgãos em Pteronarcys regalis, do
Canadá.
Parece, porém, que a razão está com
LESTAGE (1923), que, em criteriosa critica dos trabalhos publicados sobre o
assunto, concluiu dizendo o seguinte:
"La thèse qui veut que les
Perlides conservent à l'état adulte les organes respiratoires larvaires
n'est donc qu'une hypothèse, et cecas de néotenie rest à prouver".
As formas jovens dos Perlideos, em
geral, só vivem em águas muito arejadas. Daí habitarem rios e riachos, nas
partes em que a correnteza é mais rápida. Ha, entretanto, espécies européias de
Nemoura que vivem nas águas calmas, pouco agitadas ou mesmo estagnadas
dos pântanos.
As ninfas, depois de completarem o
desenvolvimento, sofrem a ultima ecdise fora d’água, quase sempre sobre uma
pedra, saindo da enxovia ninfal o inseto adulto.
Quase nada se sabe em relação ao ciclo
evolutivo dos nossos Perlideos.
Importância econômica.
- NEWCOMER
(1918), nos Estados Unidos, assinalou os estragos produzidos por Rhabdiopteryx
pacifica (BANKS), que ataca botões florais, folhas tenras e pequenos
frutos de varias fruteiros, em pomares localizados nas proximidades de rios
encachoeirados.
O referido inseto, que ataca de
preferência Rosácea, causa em alguns sítios danos apreciáveis.
No combate a esse inimigo, empregam,
com algum resultado, caldas arsênicas. NEWCOMER verificou que as fruteiras tratadas
pela emulsão de petróleo e sulfato de nicotina contra o ataque dos pulgões, são
pouco atacadas pelo referido Perlideos.
Classificação. - Ha cerca de 700 espécies
descritas da ordem Perlariae, distribuídas em 7 famílias. Quase rodas as espécies
da região neotropical pertencem á família Perlidae, e, na maioria, ao gênero Anacroneuria
Klapálek, 1909.
Dentre as espécies deste gênero, mais freqüentemente
encontradas no Brasil, citarei: Anacroneuria annulicauda (Pictet, 1842),
A. nigrocincta (Pictet, 1842) e A. dilaticollis (Burmeister, 1839).
Ha também algumas outras espécies da família Leptoperlidae, dos gêneros Gripopteryx
Pictet, 1841 e Paragripopteryx Enderlein, 1909.
Dou, em seguida, a chave para a
determinação das famílias de Perlariae, segundo TILLYARD (1921).
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